quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

This is not the right day

- Dul, você me chamou? – Annie apareceu na porta do quarto.

- Uhum.

- O que foi? – ela entrou.

Eu pensei. Sabe quando você olha nos filmes e uma pessoa fala com a outra, mas ela fica um tempão calada esperando? Foi o que eu fiz.

- Aconteceu alguma coisa? – eu queria dizer que não, que a chamei só por diversão. Quem me dera.

- Senta aqui. – pedi.

Eu pensei em chamar o Chris, mas ele estava tão entusiasmado com BJ hoje, contando como foi o show e tudo mais que não quis atrapalhá-lo. Então pensei em chamar o Ucker, mas apesar de Roberta e Diego, não somos tão íntimos assim. Aí pensei na Mai, ela é a pessoa certa para isso, mas ela já entrou no elevador fazendo planos de uma noite relaxante com Güido. Foi quando pensei na Annie. Ela é minha amiga, nos conhecemos há muito tempo, e por mais que não sejamos melhores o tempo todo, eu posso confiar; ela não é o tempo todo a Anahí que aparece na mídia.

- Você ta tristinha desde que chegamos à Espanha. – ela comentou, de um jeito que eu quis chorar.

- É. – apenas concordei.

- É alguma coisa séria? Hoje você parecia mais emotiva ainda.

- Posso te contar um segredo? – sentei na cama, encostando na cabeceira.

- Claro que pode. Dãl.

- Eu preciso que você prometa que não vai contar a ninguém. Mesmo que seja um segredo super grave ou super sério.

- Ai Dul, você ta me assustando.

- Eu preciso que você prometa, Annie, é sério.

- Tudo bem, eu prometo. Mas conta!

Respirei fundo. E me perguntei outra vez se estava fazendo a coisa certa. Olhei para ela que me encarava quase com aflição. Mas quem estava aflita era eu. Porém, o que eu podia fazer? O jeito era contar pra alguém mesmo, aquilo estava me matando e eu precisava matar alguém também para me sentir um pouquinho melhor.

- To grávida.

Ela ficou quieta e calada. Eu nem podia ouvir sua respiração. O quarto todo estava em silêncio. Comecei a contar os segundos; passaram-se dois minutos até que ela reagisse. Primeiro abriu a boca e arregalou os olhos um pouquinho, aí soltou um gritinho. Depois ela levantou.

- Sério? – ela estava de costas para mim.

- Uhum. – não tinha como ser mais sério. Eu tinha certeza.

- Você tem certeza?

- Tenho.

- Fez algum exame?

- Fiquei atrasada umas duas semanas e fiz um teste. Deu negativo. Fiz outro e também deu negativo. Aí fiquei tranqüila e deixei pra lá, mas continuou sem vir até que deu um mês e pouco, eu acho. Fiz outro teste e deu negativo. Mas dessa vez o segundo deu positivo. Com dois meses fiz outro e deu positivo. Aí marquei um ultrassom pra mim e lá estava. – aí ela já tinha virado pra mim.

- Certo, e quem é o pai? – acho que fiz uma cara de obviedade e ela riu. Seu riso parecia de bruxa, um pouco de que achou engraçado e um pouco de dó de mim. – Ta com quantos meses agora?

- Três, três e pouquinho. – ela arregalou os olhos mais dessa vez. – Ta, eu sei que devia contar, mas sei lá, parecia meio surreal, sabe? Eu esquecia nas horas que mais devia lembrar.

- Você ta fazendo shows, dançando feito uma louca e ta grávida? – ri feito uma criança que fez arte e sabe que fez. – Hmm, por isso você tem passado mal, não era nada de pressão. – concordei com a cabeça. – Alguém sabe?

- Só a Ivi e a Vero.

- Se pelo menos você falasse Sam, ou Fran, ou Paty!

- Não desmereça minhas amigas, okay? Olha só, você foi a terceira a saber!

- Mas eu sei bem que fui a última que pensou. – ela me conhece mesmo. Ela ficou em silêncio de novo e sentou no pé da cama, o mais longe de mim. – Você pensou em... – ela hesitou demais, então deduzi o que fosse.

- Abortar? – ela confirmou com a cabeça. – Na verdade não. Acho que se tivesse pensado melhor nas coisas, essa seria uma boa idéia, mas não sei, sou contra isso. Eu acho. Vero falou, mas disse à ela pra deixar pra lá que eu resolveria. E acabei foi resolvendo nada.

- To vendo. – nós duas rimos. – Ele nem sabe, né? Ainda mais agora que está com a Cláudia. – confirmei. – Você foi meio irresponsável, Dul. Namoraram por tanto tempo, já tiveram recaídas antes e vem me engravidar agora?

- Foi perto do aniversário da Mai. – fiz uma careta, relembrando. – Acho que ele já estava com ela, ou estavam de rolo, alguma coisa assim. Ele disse que ia me deixar em casa, mas fomos pra dele, os dois estavam bêbados... E você sabe que eu não tomo pílula, só quando preciso não menstruar.

- Irresponsabilidade de qualquer jeito. – eu sei. – Vai contar? – dei de ombros. – Uma hora não vai ter como esconder. E você não pode ficar se matando em coreografias, pode acontecer um acidente. – assenti e nós duas batemos na madeira.

- Você se importa de ficar aqui comigo hoje? – ela pensou demais, mas acabou concordando.

- Vou só trocar de roupa e já venho, okay? – ela me mandou um beijinho no ar e saiu do quarto. Pelo menos ao dia de hoje vou sobreviver.

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Achei isso por aqui ;) Continua um dia.

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