quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Guarding the dreams and the things left unsaid

É difícil descrever, falar com exatidão como eu me sinto. É como se tirassem um pedaço de mim, talvez uma braço inteiro, ou uma perna, e brincassem com ele, por diversão. E eu sentisse a dor mesmo assim, mesmo ele não estando mais ligado a mim. Não desejo isso pra ninguém, não desejo nem mesmo ao meu inimigo, à pessoa mais má que existe, ao que comanda o underworld, seja Hades ou sabe-se lá quem.

- Mamãe – a voz dela era fraca, e cada palavra, cada letra, ou apenas um gemido, era como se um milhão de agulhas me picassem ao mesmo tempo.

- Oi, fadinha? – perguntei, arrancando um sorriso bobo dela, não sem dificuldade e uma tosse.

- Eu amo você – ela sorriu, machucando o meu coração, fazendo as lágrimas quentes virem até meus olhos.

- Eu também te amo – era o único que eu conseguia dizer.

- O cabelo vai nascer de novo? – percebi que ela tentara levantar o braço, provável para tocar a cabeça, mas não tinha forças para tanto. Apenas assenti com a cabeça. – Cadê o papai? – ela olhou em volta, apenas com os olhos.

- Deve estar chegando, meu amor – ela assentiu, com um breve e pequeno balançar de cabeça.

- Mamãe, vai lá fora? – estranhei a pergunta.

- Pra quê?

- Vai lá, por favor? – ela pedia com tanta súplica que levantei as sobrancelhas antes de sair do quarto. Fiquei da porta, esperando. Então vi, quando ela pegou a bacia que estava ao seu lado e vomitou ali. Entrei correndo no quarto, fazendo tudo que estava ao meu alcance, mas não era muito, apenas segurá-la.

- Nunca mais me peça isso, filha, nunca mais.

- Não gosto com você perto – ela limpou a boca, com as costas da mão. – E nem tem aquele gosto ruim mais – ela fez uma careta.

- Você não me engana, bebê – peguei a bacia e joguei no vaso do banheiro. – E onde está o seu pa…

Um barulho começou a soar alto, insistente. Só me dei conta do que acontecia quando ela virou os olhos, ali, na minha frente. Foi como voltar a um passado que eu não estava presente, foi como sentir estar perdendo a mesma pessoa, mas dessa vez dói mais, dessa vez eu posso tocar. Acho que só reagi quando a porta do quarto se abriu e entraram correndo. Uma enfermeira, um médico, outro médico, o pai. Eu já nem lembrava mais dele naqueles poucos segundos, era como se existisse apenas eu, o quarto e tudo que continha nele. Acho que se esqueceram de nos tirar dali, acho que nem lembraram que estávamos ali. Eu senti a mão dele apertar a minha, eu o senti compartilhar o seu medo comigo e deixar que eu compartilhasse o meu. De repente o bipe, que era rápido, se tornou contínuo, e eu tive certeza que aqueles foram meus últimos minutos. Eu me senti mal por ele, eu senti a dor dele, talvez maior que a minha, naquele momento, quando apertou minha mão ainda mais, fazendo-a doer. Quase tanto como meu coração.

E então percebi que nada parecia com o que eu me lembrava, o fim dessa cena era totalmente diferente.

E a gente segue em frente.

 

Quando alguma coisa começa, geralmente não se tem ideia de como vai terminar. A casa que você venderia se torna seu lar, colegas de quarto que você foi forçada a compreender se tornam a sua família, e o lance de uma noite só que estava determinada a esquecer se torna o amor da sua vida. Passamos toda a nossa vida nos preocupando com o futuro, fazendo planos para o futuro, tentando prever o futuro, como se desvendá-lo fosse aliviar o impacto. Mas o futuro está sempre mudando. O futuro é o lar dos nossos medos mais profundos. E das nossas maiores esperanças. Mas uma coisa é certa: quando ele finalmente se revela, o futuro, nunca é da maneira que imaginamos.

Meredith Grey.

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